terça-feira, agosto 12, 2003

 

Sudoeste

Por todo o lado se vê pó e optimus.
O laranja da optimus impera, há até uns enormes falos insufláveis, espécie de dildos gigantes, que os festivaleiros utilizam para os mais diversos fins (cheguei a ver uma original jangada feita com estes pilões, amarrados uns aos outros)...parece que estou na saudosa festa da rentrée política do PSD (a não ser pelos hippies), o saudoso pontal. O pensamento estimula-me e sinto um desejo incontrolável de erguer o punho direito com os dedos em "V" e gritar "Cabaco! Cabaco! Cabaco!". As pessoas olham para mim incrédulas e eu paro, envergonhado.

Apesar da sufocante e opressiva presença da publicidade (optimus, guronsan, ourapraia balaia, alfaces teodorico e sei lá que mais), o espírito de woodstock está bem presente. Os recém auto-proclamados hippies festivaleiros entregam-se aos prazeres do peace and love, embora em moldes ligeiramente diferentes dos seus antepassados das américas. Durante um fim de semana inteiro longe da vigilância paternal, os milhares de jovens descobrem a singela beleza da natureza, a necessidade absoluta de paz no mundo, o sexo livre e as maravilhas do consumo abundante de haxixe e/ou álcool. Nos intervalos entre um porro e uma flor ou uma queca e uma sagres, pegam nos seus telemóveis Nokia 7650 dual band com maquina digital incorporada, e desatam a fotografar (as flores, os concertos, as ganzas, as namoradas, os amigos) para mais tarde enviarem as fotos aos seus amigos por email dos seus PCs de casa, com acesso à internet de banda larga. Os hippies verdadeiros, os sobreviventes dos anos 60, aproveitam para vender (carteiras, sandálias, t-shirts, anéis, etc) e puxar uma fumaça tranquila, com a calma de quem sabe.

Quinta feira:
Não pus lá os pés, mas aposto que houve pó e optimus.

Sexta feira:
Pó por todo o lado e já não posso ver optimus à frente!
Cheguei a meio de Suede. O gajo afinal parece que é maricas. Tenho pena de não ter assistido ao concerto completo.
Jamiroquai foi giro dentro do que se esperava. Uns saltos, umas trocas de pés e um penacho na cabeça, tudo isto ao som de um funk bem tocado e contagiante. O momento alto do concerto teve lugar quando a câmara filmou inesperadamente a primeira fila, e apareceram nos ecrans gigantes duas jovens de de língua no canto da boca e maquina digital em riste a fotografar o Jay Kay freneticamente, ignorando olimpicamente o mundo ao seu redor, concerto incluído.
Primal Scream foi uma desilusão! Ouvi 5 minutos e desatei a fugir como o diabo da cruz. Uma barulheira infernal...já não tenho idade para isto! Diz quem ficou que o concerto até foi giro: parece que o vocalista acabou por comer uma guitarra e lançar um amplificador para cima do público, semeando o pânico e a destruição, como se quer. Toranja e Blind Zero não vi...houve concerto?

Sábado:
David Fonseca foi a chatice do costume. Já estive em filas do IRS na repartição de finanças da minha área de residência menos chatas do que aquilo. As músicas prolongam-se e prolongam-se e prolongam-se e prolongam-se...
Ao fim de de 2 horas e 25 minutos de concerto (uma música) desisti do David e optei por fumar uma ganzinha revigorante e redescobrir a natureza. Comprei umas sandálias e um cachimbo na tenda-centro-comercial e passei as restantes 4h e 30 minutos do concerto a tirar fotos a um cacto que havia ao lado da barraca da sagres. Depois quando chegar a casa, logo mando, que aqui não tenho ADSL.
Adormeci com a voz monocórdica do David a cantar "Love, love..." e só acordei com a Beth Orton.
Beth Orton...que dizer da sua actuação? Esforçada, desenquadrada e simpática parece-me adequado. Dá vontade de gostar, é o melhor que posso dizer.
Morcheeba foi giro. Ou por outra, o concerto foi um merdão, mas quem é capaz de dizer mal dos morcheeba depois de ver o sorriso da Skye? Eu não sou concerteza! Sò isso já justificou a colocação dos ecrans gigantes! Para além do mais ouvi o concerto em stereo surround dolby 33 super, porque ao meu lado estava o maior repositório vivo de letras de músicas dos morcheeba, que insistiu em demonstrar a sua sapiência acompanhando a skye em todas - repito todas - as músicas. Foi como estar a ver o concerto ao lado de um radio sintonizado...no concerto!

Skin não vi, porque acho o seu album a solo uma boa merda. Para além do mais a mulher parece o Carl Lewis, agora que deixou crescer o cabelo, e eu tenho uma regra muito minha e inviolável que me proíbe explicitamente de assistir a concertos de ex-recordistas mundiais de velocidade, principalmente se forem ao ar livre. É pena, porque parece que o concerto foi muito bom. Dizem que a skin lambeu a careca ao técnico de iluminação, esventrou um dos guitarristas com um transferidor de plástico ecológico e sacrificou uma virgem a um deus azteca obscuro enquanto esperava que preparassem o palco paro o encore. Obtive estas informações de um jovem que teve a gentileza de me proporcionar umas fumaças da sua broca, logo a seguir aos morcheeba, enquanto observávamos extasiados as maravilhas da natureza, desta feita na forma de uma escultural poia de burro.

Domingo:
Não pus lá as patas, mas posso fazer uma descrição sucinta: moloko muito bom, beck fantástico e o resto não interessa!

sexta-feira, agosto 01, 2003

 

Férias

Está um calor do caralhómetro e a bela praia lusitana, lugar solarengo e repleto de gente gira, chama pelo meu nome com a irresitível e melodiosa voz da sereia. Para além do mais as noticias dos incêndios que varrem as nossas matas, aparentemente indiferentes à sua limpeza imaculada, aos milhares de vigilantes sempre alerta e aos caminhos florestais abertos e mantidos na sequência da filosofia de prevenção que sempre conduziu as politicas florestais dos sucessivos governos (não sei se apreenderam a subtilissíma e quase indetectável ironia), são deprimentes e estrangulam a irresistível torrente criativa que habitualmente esguicha para cima deste blog, deixando-lhe indeléveis salpicos de genialidade.

Sendo assim, e para que o esguicho não murche e volte em setembro em toda a sua pujança, salpicando tudo ao seu redor, vamos de férias por um período não inferior a 1 dia e não superior a 1 mês e regressaremos lá mais para setembro, bem a tempo da polémica dos touros de morte de barrancos.

Até lá, umas boas férias para ti, leitor fiel!

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