quarta-feira, novembro 26, 2003

 

Parece mentira!

Ficou ontem decidido, por quem tem essa capacidade (a frança e a alemanha), que a frança e a alemanha, após 3 anos consecutivos de meritório e empenhado incumprimento dos valores estabelecidos para o deficit pelo obscuro pacto de estabilidade e convergência, decidiram assumir uma nova posição oficial em relação ao assunto.

Assim, e a partir de ontem, as duas maiores economias da união europeia, os principais financiadores da união e grandes promotores da moeda única (de que o pacto de estabilidade é uma consequência infeliz) resolveram informar os restantes membros que se estão oficialmente a cagar para o deficit, para o pacto de establilidade e para os outros países em geral.

Leram bem: eles estão-se a cagar para o deficit!

Ao que parece, os seus representantes cansaram-se de gritar "NÂO ESTOU A OUVIR NADA!" de uma forma repetitiva e irritante, como era prática corrente até aqui, e resolveram assumir que o deficit, a partir de agora, aparece logo a seguir à queda descontrolada do preço do inhame do malawi, na lista das suas principais preocupações económicas. E tudo isto sem sequer um telefonemazito a avisar!

E como reagiu Manuela Ferreira Leite, a dominatrix das finanças portuguesas, o sargentão do governo, para quem o controlo do deficit é a razão da própria existência?
Desmaiou? Teve um chilique? Desatou a partir tudo, à boa moda da selecção de sub-21? Chorou descontroladamente?

Não, nada disso...por incrível que pareça, votou a favor...vá-se lá perceber isto.
Mandou a toalha para o chão, partindo o coração a milhões de portugueses que, valorosa e empenhadamente, combatiam o aumento do deficit como se não houvesse amanhã!

Depois desta traição infame, subitamente tudo se esvazia de sentido...para quê vender património ao desbarato? Para quê cortar o orçamento a quase todos os ministérios (menos o da defesa, claro, que os submarinos são um imperativo nacional), se agora vamos abandonar tudo? Como justificar as pontes a cair no IC19 por falta de verba para as inspecções, ou os incêndios do verão, por causa da redução na vigilância florestal?

Ainda pior: como explicar a compra de apenas 2 submarinos (em vez de 3), em nome de uma contenção orçamental que, afinal de contas, agora se deita pela janela como se fosse uma fralda usada por um adulto incontinente?

E o pior são as crianças! Como explicar aos nossos filhos que os seus pais desistiram daquilo que está certo, sem oferecer resistência?
Como vamos poder encará-los de frente com esta mancha negra no nosso passado?

É por isso que deixo o apelo:
Sra. Ministra, vamos ignorar esses mariquinhas dos alemães e dos franceses, e vamos nós combater o deficit contra tudo e contra todos...sozinhos, se fôr preciso!
Pelas nossas crianças, Sra. Ministra!

Aumente-nos o IVA para 50% se fôr necessário! Venda o palácio de belém que o sampaio pode comprar um palácio no montijo onde as casas são mais baratas!
Em último caso, e deus permita que não tenhamos de ir tão longe, comece a cobrar os impostos às empresas!

Eu quero olhar o meu filho de frente e dizer-lhe com orgulho:
"Antídio, o desemprego é de 30%, a recessão dura há 15 anos consecutivos, a convergência com a europa é uma miragem cada vez mais distante e o património do estado resume-se ás acções do Benfica que o Vilarinho lhes impingiu há uns anos porque o resto já foi tudo vendido...mas pelo menos a merda do deficit esteve sempre abaixo dos 3%! A alemanha e a frança podem ter uma economia pujante e saudável, com crescimentos económicos brutais e um nível de vida digno de um deus do olimpo, mas só conseguiram isso porque abandonaram a sagrada causa do deficit e desataram a fazer investimentos para relançar a economia, coisa que nós nunca fizemos! Assim é fácil! Assim também eu!"

Inchem, seus chauvinistas de merda!

terça-feira, novembro 04, 2003

 

Eleições do SLB

O Benfica foi a eleições!

(pausa deliberada e justificada)

Para quem não sabe, ou porque não vive em Portugal, ou porque vive e passou o último mês e meio vendado e amordaçado, algemado numa qualquer cave húmida de porto brandão nas mãos de um grupo independentista da Quinta do Conde (não há qualquer outra razão plausível para ignorar o acontecimento excepto, talvez, o holocausto termonuclear) o maior clube português, o dos 6 milhões, elegeu o seu novo presidente!

E que lindo é ele, senhores!
Uns olhos juntinhos e puros, a lembrar o jumento que carregou a virgem grávida para o estábulo, denunciadores de uma grande pureza de carácter e uma alma imaculada, umas orelhas proeminentes, a fazer corar de inveja o radiotelescópio de Arecibo em Porto Rico e, a cereja em cima do bolo, um farto bigode lusitano a lembrar o famoso e saudoso, do poeta Artur Jorge, símbolo indiscutível de saber futebolistico acumulado e comprovadissima macheza, atributos sem os quais é impossível comandar um clube de tão fenomenais pergaminhos, como é o glorioso!
Um festim para os olhos, portanto!

Mas comecemos pelo inicio: apresentaram-se a sufrágio três candidatos...três campeões, paladinos da verdade desportiva e especialistas nas artes futebolescas, dispostos a tudo para conduzir o Benfica ao seu destino inato e anunciado: a glória de servir, em virtude dos sucessivos falhanços desportivos e financeiros, de tema recorrente para uma panóplia de jornais, revistas, televisões, radios, comentadores, astrologos, videntes e profetas.

Mas aos candidatos!

De Alcobaça chegou Guerra Madaleno, jurista astuto, transbordante de confiança, rápido a prometer e ainda mais rápido a mostrar papéis rabiscados, aparentemente por uma criança com menos de 6 anos (pelo aspecto), supostas provas dos acordos alegadamente firmados com 9/10 da elite futebolistica mundial no activo. O olhar esbugalhado de quem acabou de receber 750 litros de café por via intravenosa e umas sobrancelhas farfalhudas, dignas de Abraão, a lembrar velhas histórias de lobisomens que os velhos ainda contam na zona de alcobaça para assustar os mais novos, completam o retrato. Foi o único que prometeu Rui Costa abertamente, embora este tenha negado o acordo, detalhe que nunca perturbou o ousado candidato!
Mas, uns problemazitos menores com uma justiça, se calhar, demasiado exigente (o que são uns negóciozitos envolvendo apartamentos, toxicodependentes, despejos e Guerra Madaleno?), acabaram com o sonho bonito e provocaram a sua queda precoce!
Fica a intenção e os desejos de um rápido retorno!

De Leiria veio Jaime Antunes, reputado economista, jornalista e benfiquista. De verbo fácil, critica mordaz e uma inexplicável capacidade para fundar e afundar empresas e jornais, também fez algumas promessas aliciantes, embora sem o encanto sonhador das de Guerra Madaleno. A sua racionalidade excessiva e a frieza gelada dos seus números afastaram os apaixonados Benfiquistas...faltou-lhe magia! Faltou-lhe a capacidade de, qual Maya transbordante de madura sensualidade a lançar cartas de tarot, adivinhar futuros gloriosos e pejados de títulos para o Benfica, que é o que qualquer adepto pretende ouvir, quando vê um candidato na televisão.
Foi, por isso, incapaz de libertar os benfiquistas do feitiço que o grande feiticeiro vieira, esse sim perito em adivinhações optimistas (maior clube do mundo dentro de 3 anos, 500 mil sócios, etc), já tinha lançado nos seus corações vulneráveis. Nem sempre a razão é o melhor caminho para o voto de um homem (principalmente se esse homem é benfiquista), e essa foi a dura lição que estas eleições lhe ensinaram!
No entanto foi o único que não prometeu Rui Costa, apesar da confusão que a enganadora frase "se eu fôr eleito, o Rui Costa vem para o Benfica!", poderá ter provocado.

E de Alverca veio o feiticeiro que lançou o encanto do estádio novo, o líder iluminado que inventou engenhosos esquemas de milhões, o semi-deus que recusou descer do olimpo e debater o seu programa eleitoral com os adversários, o corredor incansável que corria para salvar o benfica...de Alverca, do meio da bruma matinal, montado num cavalo branco, chegou Luís Filipe Vieira. Apoiou-se na obra feita por outros (Mario Dias - "prémio nobel da construção de estádios novos", citando as palavras esclarecidas de um associado) e a ser paga a 30 anos. Prometeu ganhar tudo sem explicar como nem quando e pediu a continuidade de 3 anos de desgraça absoluta em termos de resultados desportivos. Mas, a força é fortissima em Luís Filipe Vieira e, por incrível que pareça, o senhor de Alverca conseguiu os seus intentos! Honra lhe seja feita, nem o apoio alcoólico do entaramelado Manuel Vilarinho lhe perturbou a marcha vitoriosa!
Os 150 mil contos que alegadamente gastou na campanha, visiveis nos outdoors que invadiram lisboa, como uma praga de gafanhotos, e nos spots televisivos que divertiram os portugueses nos intervalos do big brother, se calhar também ajudaram.
Foi, no entanto, o único que prometeu não prometer o Rui Costa, apesar de prometer falar com ele depois das eleições, para obter dele a promessa de retorno ao Benfica.

Aleluia!

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