segunda-feira, dezembro 13, 2004

 

Portugal anormal

É verdade, meu povinho simpático, o impensável aconteceu! Nos mais de 30 anos que levo nesta vida de escrevinhadura em blogs mal frequentados e inconsequentes, nunca pensei assistir ao que se está a passar agora no meu amado Portugalinho, à beira-mar plantadinho. Estou espantado e indignado e nem sequer é Agosto, para ser com os touros de morte de Barrancos!

E ainda há 4 meses tudo estava normal: o cherne, depois de passar a campanha eleitoral a prometer, de mão a bater no peito cheio, que nunca abandonará o barco, leva uma tareia nas eleições e, como bom português que é, põe-se a andar, abandona o barco como tinha prometido que não faria, e vai para Bruxelas armar ao pingarelho, ganhar o dobro e atormentar os locais. Como castigo para o povinho ingrato, que tão veementemente tinha demonstrado o seu desagrado na safra eleitoral europeia, deixa-nos de presente envenenado o bebé na incubadora, prontinho para levar porrada dos irmãos mais velhos.

Sampaio, que não tem medo de nada a não ser de que a instabilidade lhe caia em cima da cabeça e até gosta de crianças (no bom sentido, claro), fica aterrorizado com a perspectiva de eleições antecipadas e, contrariando tudo o que seria lógico, inteligente ou apenas razoável, opta por permitir que Santana ascenda ao cargo de Primeiro-Ministro da nação, no que foi considerado pela imprensa especializada, como o mais insensato acto cometido por um cidadão português, desde que António Pereira Silva, empregado de mesa com carteira profissional ao serviço da Luftwaffe, resolveu fazer uma pausa e fumar um cigarrinho perto dos reservatórios de hidrogénio do Hindenburg, quando este se preparava para aterrar em Nova Iorque, a 6 de Maio de 1937.

Entre nomear um socialite de muitas festas, ex-presidente de clube de futebol, comentador político e desportivo e incompetente com provas dadas no seu escritório de advogados e em vários municípios deste país, e convocar o povo para votos - e não seria a primeira vez que o povo ia a votos - Sampaio, foge das eleições, como o Alberto João do tribunal de contas, e faz o que seria impensável num país civilizado. E é assim que, sem saber como, Santana adormece num banco de jardim perto da Kapital, depois de mais uma noite de alta rotação na madrugada lisboeta, e acorda no palácio de Belém, com um discurso desordenado na mão para ler e já investido primeiro-ministro da nação pelo neurótico presidente. Promessas por cumprir, fugas para a frente e uma patética mistura de D. Juan, Goebbels e Jay Leno a liderar o governo...ou seja, até aqui tudo normal na vida política portuguesa!

A surpresa veio depois...4 meses mais tarde, para ser exacto. Contrariando tudo o que é normal e aceitável e só porque o governo tentou controlar a comunicação social, usou navios de guerra para impedir que um barco cheio de mulheres e medicamentos entrasse em águas territoriais portuguesas, entrou em contradição em questões fundamentais com uma periodicidade quase diária, transformou os conselhos de ministros numa espécie de encontros itinerantes de caixeiros-viajantes, elaborou um orçamento que conseguiu a proeza de ser considerado péssimo por trabalhadores, patrões, analistas estrangeiros e várias formas de vida extraterrestre de passagem por este quadrante da galáxia, viu ministros demitirem-se e enviarem cartas bombásticas para a agência lusa, entre várias outras argoladas, Sampaio, numa decisão lógica, inteligente e razoável, respirou fundo, limpou os suores frios da testa...e mandou a estabilidade às favas, dissolveu o parlamento e convocou eleições para 20 de Fevereiro. E como lhe deve ter custado!

É esta a anormalidade! Desde quando é que os membros da classe política nacional tomam decisões lógicas, sensatas e razoáveis? Será que Portugal, o meu Portugal, o país de Alberto João seminu e bêbado a dançar de nariz vermelho, no carnaval madeirense, do Tino de Rãs na SIC a dizer baboseiras, do Cavaco a comer bolo rei de boca aberta ou a dizer que nunca se engana e raramente tem dúvidas, do Sousa Lara a escolher livros para enviar a eventos literários internacionais e a excluir o futuro único prémio nobel da literatura, está a perder o seu encanto? Será que o nosso Portugal, o dos 10 estádios para o euro, por acção de alguma nefasta e inexplicada influência se está a transformar - deus nos livre de tamanha tragédia - numa sociedade desenvolvida e madura, onde os políticos façam o que é lógico e razoável sob pena de serem penalizados pelo eleitorado? Será que vamos abandonar o nosso estatuto de mais subdesenvolvido dos países desenvolvidos e, com ele, o nosso encanto pequenino e tão português?

Deus nosso senhor nos livre de tão horrendo e trágico destino!

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